UNITA - ANGOLA
Fonte :
Uakidi.com/AP
"Soube da morte do meu pai, um dia depois dos acordos de Paz" diz Isaías Dembo
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O filho do antigo vice-presidente da UNITA, António Dembo, desvenda alguns segredos de como terá sido morto o seu pai.
Sabemos que não é hábito recordar as ilustres figuras que se destacaram no panorama político-militar da UNITA a não ser de seu lider.

Com objectivo de relembrar a a data da morte de um dos militantes mais brilhante e influênte da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), a Uakidi.com entrevistou o filho de guerra de António Sebastião Dembo.
O dia 25 do corrente é a data da morte do General António Sebastião Dembo, nascido na província do Bengo, em 1944, conhecendo a morte no ano de 2002, nos mês e dia supracitados.

Sabe-se que em termos de posições políticas, o General Dembo era bastante duro contra a administração do MPLA e tal como Jonas Savimbi, as negociações com ele não seriam fáceis.

Para elucidar os nossos leitores sobre como era o “seu” quotidiano na família, segue a conversa o jovem Isaías Dembo, revelando algumas particularidades que tornavam peculiar a figura emblemática de António Dembo.

Uakidi.com: Concorda que o seu pai foi o homem do Norte de Angola com mais influente que a UNITA ja conheceu?
Isaías Dembo (ID): Concordo sim, apesar desta palavra “mais influente” ser muito pesada. Acho que foi o militante do Norte que mais conseguiu se destacar no seio da UNITA...

Uakidi.com: E quais são as lembranças que tem sobre ele?

ID: As lembranças que tenho do meu pai são várias, mas a que mais interiorizo é a rigorosa educação porque é a que me tem guiado até aos dias de hoje.

A UNITA foi um Estado dentro de Angola

Uakidi.com: Muitos defendem que os militantes do Galo Negro foram ferozes, no entanto, como é que o segundo líder destes supostos ferozes conciliava a vida militar e a familiar?

ID: Tivemos uma vida familiar boa e quando certos indivíduos afirmam que os da UNITA foram ferozes, permita-me dizer que isso não corresponde à verdade. Eu considero que a nossa convivência no partido transformou-nos homens íntegros, honestos e inteligentes, portanto, aprendemos de tudo um pouco e, o meu pai sabia destrinçar a vida militar da vida social e política, tudo porque todos os ramos estavam em pleno funcionamento. Concordo também com as pessoas que diziam que a UNITA foi um Estado dentro de Angola porque criou e controlou todas as áreas de todos os ramos possíveis da sociedade.
Uakidi.com: É do conhecimento de todos que quando um determinado militante violar determinadas regras estabelecidas por Jonas Savimbi, automaticamente surgiam sobre o mesmo, as candambalas, no teu caso, perdoavam-te por ser filho de do chefe?
ID: Na qualidade de sermos filhos do vice-presidente, nada impedia caso cometêssemos um determinado erro, porque lá, a lei era abrangente a todos, isso o exemplo começava mesmo de nós. Por isso eu disse no início da entrevista que uma das lembranças que tenho dos meus pais é a educação que nos guia até a data actual. Pois, fomos educados de uma forma que até ao momento não me recordo de alguém que terá indicado o dedo a nós e nem aos meus pais, porque foram sempre militantes exemplares.

Uakidi.com: Referiu que a lei era abrangente a todos. Em que zona está a se referir concretamente?

ID: Pois, quando disse lá, referia-me a todos os cantos do País controlados pela UNITA...
Uakidi.com: A família Dembo aonde vivia?

ID: Nós tivemos várias residências, estávamos primeiro na Jamba, onde frequentei os meus estudos primários, depois fomos para a cidade do Uíge, em 1992 e após a terra do bago vermelho nos dirigimos para o Andulo, em 1996. Estive sempre com o pai até aos últimos momentos.

Uakidi.com: Isto é uma coisa que vamos falar lá mais para frente. Mas diga-nos, é do mesmo ponto de vista de que seu pai foi um sucessor natural de Jonas Savimbi?

ID: Atendendo os estatutos do partido, o meu pai seria o sucessor do doutor Savimbi para levar o partido ao congresso e depois, em função dos concorrentes, haveria a devida eleição para os congressistas elegerem o Presidente. O que estou a querer dizer agora é que se não estiver errado, consta no artigo 21º do estatuto.

Uakidi.com: António Dembo como pai, militar e vice-presidente de um dos maiores Movimentos de África, era muito apegado a coisas luxuosas?

ID: Sempre tivemos uma vida normal, igual a qualquer pessoa, o pai não era muito de luxos até as empregadas de casa ficavam de férias quando nós tivéssemos de pausa na escola. Todas as actividades das empregadas recaíam sobre nós, onde aprendi desde muito cedo a cozinhar, lavar roupa e a passar ferro. Portanto não tínhamos uma vida de luxo, mas sim um lar muito decente. Lembro-me ainda que na Jamba, a nossa residência inicialmente era cobertura de capim e as paredes de caniço, mas tarde as paredes das residências foram de madeiras e outras de barro. E quando fomos para o Uíge nos anos 90, tivemos já nas cidades, onde já haviam casas de bloco deixadas pelo colono português e como todos, cada um tinha a sua própria residência a ocupar.

Uakidi.com: Como pai, o que António Dembo queria que os seus filhos fossem e que visão transmitia-vos sobre o país?

ID: São tantas as conversas que fui travando com o pai e sempre me incentivou a estudar porque para ele o caminho das realizações está na formação e, sobre o país, o pai sempre dizia que com o Governo do MPLA, Angola haveria de ser sempre mal vista porque os governantes actuais são corruptos. Só têm interesses pessoais e não olham para os interesses dos autóctones, não olham para evolução das aldeias. Imagine Sr. Jornalista, o pai dizia-me isso há quase 20 anos, mas, estamos a ver que até hoje existe um desnível sério da evolução entre as provinciais.
António Dembo como um irmão mais novo...

Uakidi.com: fala-se muito que na UNITA reina o espírito de tribalismo, onde os da regao sul sãos os mais privilegiados, diga-nos com honestidade. Como os militantes da UNITA tratavam o seu pai e como era a relação entre ele e o Presidente do Movimento, Jonas Savimbi?

ID: Os militantes da UNITA travam o meu pai com respeito, pois, ele também respeitava muito as pessoas e era muito acolhedor. Em casa nunca vivemos menos de 20 pessoas, tudo porque ele acolhia tanta gente que hoje nos consideramos irmãos. E, a relação do pai com o doutor Savimbi era também boa e amigável. Acompanhei muito empenho entre os dois e até o Presidente Savimbi chamava o meu pai de “meu irmão mais novo”. Importa reter aqui também que nos últimos anos, antes da hecatombe, a nossa casa com a do Presidente Savimbi foram sempre vizinhas.

Uakidi.com: Sabemos que se separou do seu pai durante um confronto entre a FALA e as FAA, a tropa governamental, importa descrever como ocorreu, local, data e hora?

ID: Primeiro permita-me dizer que os pais parecem que tinham uma antevisão dos acontecimentos porque as coisas que nos falavam demonstram isso mesmo, permanentemente o pai dizia-me assim: “Estamos a lutar para uma Angola vossa, esta Angola já não é para nós, mas sim para o vosso sonho, o vosso amanha”. Portanto, eu acho que ele já sabia o que poderia ocorrer. Eu comecei a andar com o pai em 1997, forjei a minha vida militarizada, pois, andei em certas frentes com o pai. A nossa separação foi exactamente no dia 19 de Fevereiro de 2002. Tudo isso se deveu as últimas pressões que fomos sofrendo de ataques sucessivos porque começamos a tê-los em Novembro de 2001. Desde aí até Fevereiro do ano seguinte, estes ataques foram continuando e a minha separação foi no ataque do dia que já mencionei. Após termos atravessado o asfalto que liga a cidade do Luena ao município de Lumbalanguimbo, na margem esquerda do rio Luoli, afluente do rio Luvuei. Como disse, isso aconteceu no dia 19, após um ataque que nos obrigou a atravessar o asfalto as 5 horas da manhã e fomos novamente atacados as 9.

Portanto, estávamos alí a tentar conter o ataque, mas afinal havíamos sido contornados, isto é próprio de guerra e por volta das 9 horas e alguns minutos fomos capturados e aí a minha separação com o pai...
Uakidi.com: E o Sr. Dembo continuou a marcha....?

ID: Sim. Continuou a marcha e no mesmo dia cheguei ao Moxico. Então depois de uns três dias ocorreu a hecatombe do dia 22 em que morreu o doutor Savimbi, sendo eu evacuado para cá em Luanda, e no dia 25 ocorre também a morte do meu pai. Só apercebi-me da morte dele no dia 5 de Abril, após a assinatura de Paz.

Uakidi.com: O então Vice-presidente, António Dembo faleceu a 25 de Fevereiro de 2002, até ao momento muito se debate da forma como morreu, uns atribuem responsabilidades a alguns Generais de origem Ovimbundu que não queriam ver a UNITA a ser dirigida por elementos de origem Norte de Angola. Comunga da mesma opinião ou nem por isso?

ID: Sobre a morte de António Dembo muita gente fala coisas que os vem à cabeça, mas, a verdade é que o meu pai foi um General de quatro estrelas e muito querido. Mas tudo isso que se fala ter acontecido e que alguém terá morto o meu pai, não é verdade. A verdade é que o pai padecia de diabetes e estava a fazer uma medicação constantemente, mas infelizmente a última medicação foi requisitada na Zâmbia e a minha madrasta, Maria Neves estava a andar com os medicamentos, sendo capturada no dia do ataque. Devido à ausência dos fármacos, o estado físico do pai começou a decair até ao trágico momento do seu passamento físico.

Noticias publicado no dia 18/02/2002 pelo site nexus.ao
Esposa de Dembo confirma: meu marido está doente
A esposa do vice-presidente da Unita savimbista, Dores Chipenda, capturada recentemente pelas Forças Armadas Angolanas (FAA), na região do Moxico (Leste), confirmou no sábado na cidade do Luena, o estado de saúde crítico que presentemente o seu marido enfrenta ao persistir caminhar ao lado de Jonas Savimbi.

Dores Chipenda, antes de ser capturada no final do mês findo, integrava a coluna chefiada pelo general Bufalo Bill, que tentava atingir o território zambiano.

Nas suas declarações Dores Chipenda, reconhece as grandes peripécias que sofreram durante as caminhadas a pé, agudizadas com a fome e falta de tudo.

A esposa do actual vice-presidente da Unita savimbista confirmou a morte de vários cidadãos entre mulheres, velhos e crianças devido os longos percursos , e segundo ela, os cadáveres sao abandonados nas matas.
Dores Chipenda, admitiu também a morte do antigo deputado da bancada parlamentar da Unita +Kapapelo+, devido a fome insuportável.

Durante a cerimonia, foram também apresentados o brigadeiro Ilidio Paulo Sachiambo, os coronéis Eliseu Catumbela e Tiago Bernardo Chingui, que na ocasião manifestaram o seu arrependimento pelo tempo perdido nas matas ao lado de Savimbi.
Segundo fonte do estado maior do comando operacional do Moxico, na recente operação militar de limpeza, as FAA capturaram igualmente as esposas do falecido general Bock, Beatriz Marcolino, do general Numa Camalata, Tita Miranda e a do secretário para a informação da organização Savimbista, Amélia Isabel Dachala.

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